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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PostHeaderIcon Conaqj vai comemorar pelo terceiro ano em Sergipe o Centenário do Rei do Baião

Em 13 de dezembro de 1912, nasceu o Rei do Baião, no pequeno vilarejo com o emblemático nome de Exu, no sertão pernambucano, e recebeu o nome de Luiz Gonzaga Nascimento. Luiz porque era dia de Santa Luzia, Gonzaga por sugestão do vigário que o batizou, e Nascimento por ser o mês em que Maria deu à luz Jesus. Ele era filho de Ana Batista de Jesus, uma cabocla bonita conhecida como Santana, e de Januário José dos Santos, o único tocador de sanfona da região, um fole de oito baixos. 

Segundo dos nove filhos do casal, aos 8 anos já empunhava sua sanfona e recebia cachê para cantar e tocar a noite inteira em festas da região. Em 1920, era famoso por lá. Quatro anos depois, por causa de uma enchente, a família se mudou para Araripe. Lá, Gonzaga adquiriu um fole Kock de oito baixos, com a ajuda de um coronel, que pagou a metade do preço do instrumento. Luiz Gonzaga já ganhava mais que o pai, mas não tanto para comprar sozinho o fole, muito acima de suas posses.


Em 1926, ele foi para o Rio de Janeiro. Lá, se apaixonou por Nazarena, mas o pai da moça não gostou nem um pouquinho do namoro. Arrumou uma confusão e acabou vendendo sua sanfoninha de oito foles, indo em seguida para o Ceará. Aumentou sua idade para entrar no exército, e virou soldado Nascimento. Correu o país em missões militares durante a Revolução de 1930. Enquanto isso, seu pai, mestre Januário, conseguiu reaver a sanfona que Gonzaga tinha vendido. Gonzaga continuou no exército e, nas horas de folga, não deixava de ouvir músicas no rádio. Aí, decidiu fazer um concurso para músico, no exército mesmo – mas foi reprovado. Não conhecia a escala musical. Então, virou soldado-corneteiro e ganhou o apelido de Bico de Aço. Ainda no exército, em 1936, aprendeu a tocar sanfona de 120 baixos; comprou uma de 48 baixos e tocou em algumas festas. Ele pagou uma pequena fortuna para comprar uma sanfona branca, Honner, de 80 baixos, de um caixeiro-viajante. Só que o cara era um vigarista. Luiz Gonzaga, que a essa altura servia em um quartel em Ouro Preto (MG), foi então pra São Paulo atrás do vendedor pilantra. Não conseguiu achar o sujeito, mas não voltou de mãos vazias. Com o dinheiro que faltava pagar ao caixeiro-viajante, comprou uma sanfona igualzinha a que o fulaninho que o enganou ofereceu a ele.

Em 1939, Gonzaga deu baixa do exército. Voltou para o Rio com intenção de, de lá, ir para casa em Exu. Mas acabou ficando na Cidade Maravilhosa. Foi no Rio que apresentou pela primeira vez em um palco, o cabaré chamado O Tabu. 

Ritmos estrangeiros invadiram o país como consequência da grande guerra e Luiz Gonzaga não se fez de rogado: tocava todo tipo de música, incluindo blues e fox trot. Voltando às raízes, em 1940 foi ao programa de rádio de Ary Barroso, Calouros em Desfile; tocou a música “Vira e Mexe”, de sua terra, e conseguiu nota máxima. Então, ele foi trabalhar com Zé do Norte no A Hora Sertaneja, programa da Rádio Transmissora. No ano seguinte, assinou contrato com gravadora RCA Victor e lançou 4 músicas em um disco de 78 rotações. Gravou mais dois e ganhou destaque na mídia. Gonzagão gravou 30 discos instrumentais - não podia cantar neles por imposição da gravadora. Seu sucesso, até então, era apenas como sanfoneiro.

Em 1943, viu o sanfoneiro catarinense Pedro Raimundo se apresentar com roupas de gaúcho. Decidiu, então, vestir-se com roupas típicas do nordeste. E mais: irritou-se com a interpretação que Manezinho Araújo deu a uma composição sua em parceria com Miguel Lima: “Dezessete e Setecentos”. Resolve cantá-la. E aí seu sucesso só fez crescer, crescer e crescer. Gonzagão foi para a Rádio Nacional, onde Paulo Gracindo acabou divulgando seu novo apelido, Lua, por ter cara redonda. Em 1945, gravou seu primeiro disco tocando e cantando. O hit é “Dança Mariquinha”. O sucesso aumentou. Gravou mais e, em 1947, lançou a música que é um ícone de sua obra e um dos grandes clássicos da MPB: “Asa Branca”, em parceria com Humberto Teixeira. Foi também nessa época que adotou o acessório que marcou sua imagem, um chapéu de couro igual ao que Lampião usava. No ano seguinte, casou-se com Helena das Neves. Mas Luiz Gonzaga já tinha um filho de 3 anos de uma relação anterior, Luiz Gonzaga do Nascimento Junior. Posteriormente, adotou uma menina com Helena, a Rosa Maria. 

Em 1949, muito preocupado com a violenta guerra entre coroneis que acontecia em Exu, resolveu trazer a família para o Rio.
Começou a compor muito, principalmente em parceria com Humberto Teixeira e Zé Dantas. Suas músicas passaram a ser gravadas também por outros intérpretes e, em 1951, ele já era o Rei do Baião. A gravadora RCA Victor trabalhava praticamente só para ele. Em 1955, gravou seu primeiro disco de 45 rotações e, em seguida, o primeiro LP, de 10 polegadas e 33 rotações. Em 1958, no auge da Bossa Nova, gravou um LP de 12 polegadas: Xamego.
Em 1961, Luiz Gonzaga resolveu virar Maçom. Sofreu seu segundo acidente de carro e feriu o olho direito. Dois anos depois, sua sanfona Universal foi roubada e ele adotou, definitivamente, a sanfona branca. Mandou gravar “É do Povo” em todos os seus instrumentos.

Depois do golpe militar, em 1965, Geraldo Vandré gravou “Asa Branca” e Gilberto Gil começou a falar do Rei do Baião em suas entrevistas. Luiz Gonzaga gravou “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores”, hino contra a ditadura, e “Fica Mal com Deus”, ambas compostas por Vandré. 

Aconteceu uma coisa engraçada em 1968. Carlos Imperial começou a espalhar que os Beatles gravaram “Asa Branca”! Mentira, claro. Luiz Gonzaga ocupou de novo muito espaço na imprensa por causa dessa brincadeira e virou destaque na revista Veja com a matéria “Gonzaga: a volta do Baião”. Em 1971, Caetano Veloso e Sérgio Mendes gravam “Asa Branca”. O nordestino de Exu virou sucesso entre os hippies. 

No ano seguinte, aos 59 anos, Gonzaga se apresentou para um público jovem no Teatro Teresa Raquel, no Rio, uma iniciativa de Capinam. Deixou a RCA Victor e foi para a Odeon. O grego Demis Roussos também gravou “Asa Branca”, em versão em inglês, “White Wings”.
Em 1980, ele cantou para o Papa João Paulo II e recebeu um “obrigado, cantador”. Ele se emocionou muito. Em 1982, virou, enfim, Gonzagão. O filho, Gonzaguinha, o acompanhou numa turnê e já mostrava que só daria orgulho ao pai. Os dois haviam gravado juntos o LP Descanso em Casa, Moro no Mundo, grande sucesso. Em 1984, ganhou seu primeiro Disco de Ouro com o LP Danado de Bom. Três anos depois, veio o Disco de Platina com Forró de Cabo a Rabo. Em 1988, foi para a gravadora Copacabana. Lá gravou seus últimos LPs. 

Naquele ano, separou-se de Helena e assumiu a relação com Edelzuíta Rabelo. Em 1989, Gonzagão se apresentou pela última vez, surgindo no palco em uma cadeira de rodas. Ele sofria de osteoporose e, desobedecendo ordens médicas, participou de um show, com Dominguinhos, Alceu Valença e Gonzaguinha, entre outros, no dia 6 de junho no teatro Guararapes, em Recife. No dia 21 de junho foi internado e morreu no dia 2 de agosto, aos 76 anos, no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Curiosamente, nesse mesmo dia, uma galinha pela qual Luiz Gonzaga tinha grande estima morreu também. A galinha estava em uma das fazendas que o Rei do Baião havia vendido com tudo dentro, fazendo, porém, uma recomendação especial para cuidarem muito bem da bichinha. Dizem que ela morreu de tristeza.

Para quem for acompanhar o desfile da Unidos da Tijuca, hoje, algumas informações:
Enredo: “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o rei Luiz do sertão”

Samba da Unidos da Tijuca:
Segue a letra do samba, composto por Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Callado, Silas Augusto e Cesinha:
Nessa viagem arretada
“Lua” clareia a inspiração
Vejo a realeza encantada
Com as belezas do Sertão
“Chuva, sol”, meu olhar
Brilhou em terra distante
Ai, que visão deslumbrante, se avexe não
Muié rendá é rendeira
E no tempero da feira
O barro, o mestre, a criação
Mandacaru, a flor do cangaço

Tem “xote menina” nesse arrasta-pé

Oh! Meu Padim, santo abençoado
É promessa, eu pago, me guia na fé
Em cada estação, a “triste partida”

Eu vi no caminho vida severina
À margem do Chico espantei o mal
Bordando o folclore, raiz cultural
Simbora que a noite já vem, “saudades do meu São João”
“Respeita Véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só”
“Numa serenata” feliz vou cantar
No meu Pé de Serra festejo ao luar
Tijuca, a luz do arauto anuncia
Na carruagem da folia, hoje tem coroação
A minha emoção vai te convidar
Canta Tijuca, vem comemorar
“Inté Asa Branca” encontra o pavão
Pra coroar o “Rei do Sertão”
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